quinta-feira, 19 de abril de 2012

Bálsamo precioso!

Quando parece que já vivemos boas experiências, a vida nos surpreende com algo inédito que dificilmente pensaríamos viver em circunstâncias normais da vida.

Há alguns dias vivi uma destas surpresas que acontecem poucas vezes na vida. Recebi um convite para ir a um complexo penitenciário aqui, na cidade do Rio de Janeiro, para levar uma palavra de esperança a um grupo de jovens detentos.

Inicialmente, fiquei um pouco apreensiva com o convite, por saber de onde se tratava, mas sem hesitar, disse logo meu sim. Senti, naquele momento, que era um convite especial de Deus para mim e eu devia ir, sim, para estar com aqueles rapazes. Não pensei em mim, na minha segurança física, nos contratempos ou coisa parecida que pudessem me impedir de viver esta experiência. Só sabia que não poderia negar-lhes a possibilidade de falar da essencialidade da vida.

Alguns dias me separavam deste momento e assim pude, antes de tudo, colocar-me na presença de Deus para entender o que Ele queria que eu falasse. Implorei-lhe que nenhuma palavra saísse de minha boca para magoá-los ou condená-los e que, de meus olhos, eles percebessem somente o meu amor fraterno.

Assim aconteceu. Preparei-me intensamente e, serenamente, cheguei ao local. Pedi a Deus que fosse à minha frente porque com ele estaria segura. Inicialmente é impactante o local. Muros altos limitando a liberdade física, policiais armados por todos os lados, um clima pesado de vigilância contínua, olhares fechados. Mas, aos poucos, conforme adentrava, comecei a ver uma variedade imensa de rostos. Cada um com sua história e seu passado, seus arrependimentos e seus desejos, seus sonhos e desalentos. Muitas coisas passaram na minha cabeça e pensei: estão aqui perdendo a vida que não volta mais... os filhos estão crescendo, os pais envelhecendo, as esposas vivendo da ausência... e a vida passando. O tempo não perdoa.

É uma realidade dolorosa que nos frustra profundamente, mas também nos humaniza. Muitos são vítimas de um sistema que os exclui e os faz perder tudo o que têm, até a própria dignidade.

Ao entrar na sala, encontrei-me com aproximadamente 30 homens. Muitos bem jovens, outros de meia idade e alguns mais envelhecidos pelo tempo. Fiquei surpresa com a acolhida e com os olhares serenos e atentos. Disse, inicialmente, que tudo o que tinha preparado para eles, eram coisas muito importantes para a minha vida e desejava que também fossem para eles porque cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

Foi realmente uma troca de dons! Eles falavam daquilo que acreditavam, daquilo que não poderia morrer dentro deles para permanecerem vivos interiormente e para serem continuamente despertados e animados para um dia alcançarem a liberdade novamente. A fé torna-se verdadeiramente um bálsamo precioso para aqueles que a buscam.


Em muitos momentos, a Palavra de Deus surgia como fonte de vida e de luz e aquele lugar se enchia de bênção. Sem dúvida alguma, é esta palavra que mantém viva a esperança no coração daqueles homens que erraram nas suas escolhas ou foram vítimas delas.

Não somos melhores do que eles. Tivemos apenas boas oportunidades que nos conduziram por outros caminhos. “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7). Que estas palavras de Jesus não nos deixem esquecer jamais a nossa condição de pecadores e que elas nos coloquem sempre no caminho da humildade, porque não viemos ao mundo para condenar, mas para juntos vivermos a misericórdia.

Ir. Deuceli Kwiatkowski

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