segunda-feira, 30 de abril de 2012

Pôr-se a caminho!

 
Jesus era um homem incansável, um mestre admirável. Andava por toda parte anunciando que o amor é o maior mandamento. Assim viveu entre os homens aquele que não pregou a si mesmo, mas pregou o Reino.

Seu Reino é de paz. Ele traz, ele dá, ele é a paz que devemos irradiar qual bálsamo a tantas pessoas feridas pela vida afora.

Paz que, nas estradas de Jericó e nos caminhos da vida, pede-nos que desçamos de nossas árvores para que ele entre em nossa casa, mude nosso jeito de ser, de viver, de pensar e nos coloque de pé, diante dele, libertados (Lc 19, 1-10).

Tão libertos, tão tocados, tão convencidos e tão vencidos por Cristo que já não temos medo de derramar nosso perfume, nem nos arrependermos do perfume que um dia lançamos ao nos entregarmos à experiência viva da fé (Lc 7, 36-50).

“A fé cristã é um caminho... e, é próprio de um caminho que, só andando por ele, se saiba como caminhar nele” Bento XVI.

O Senhor quer fazer uma jornada conosco! Ele quer nos encontrar a caminho para pôr-se a caminho conosco e relembrar coisas importantes que não podem passar despercebidas em nossa curta jornada neste mundo.

Ele tem pressa. Embora queira ardentemente cear conosco e ficar em nossa casa (Lc 22,7), ele respeita nosso passo, nosso ritmo, tantas vezes, lento, preguiçoso e desanimador. Mas é nesse compasso que ele chega suave, sereno, de mansinho em nosso coração. Deus não se impõe.

Jesus tinha olhos que possuíam o dom de fazer devoluções. Precisamos todos deste olhar que nos devolva o desejo de voltarmos sempre para perto do poço de onde brota a água que sacia a sede de um amor verdadeiro (Jo 4,1-30). Deste lugar, partiremos felizes para anunciar aos outros onde está a fonte que jorra água em abundância e não seca jamais.

Ir. Deuceli Kwiatkowski

sábado, 28 de abril de 2012

Fragmentos de verdade e beleza!

Uma das coisas boas da vida é poder sentar com um amigo, sem tempo marcado, bater um bom papo, sem falar de coisas que chateiam, ouvir o que as palavras não dizem, sem tentar entender tudo, ler os gestos que acompanham os sentimentos, sem perder-se do essencial.

A vida é assim simples, traz alegrias, realiza sonhos, promove encontros, provoca mudanças, solicita adaptações, gera transformações, sustenta convicções, exige decisões, quebra barreiras, guarda segredos.

Inevitavelmente, vivemos tensões diárias que provocam em nós uma certa desesperança diante dos sobressaltos da vida. Mas, se não estivermos distraídos, encontraremos, ao longo do dia, pessoas que nos estimulam a viver bem, gestos que nos acordam, palavras que mexem conosco. São fragmentos de verdade e beleza que têm o poder de provocar em nós  sentimentos novos, capazes de gerar atitudes reveladoras de compaixão, de esperança,  de amor.

Frequentemente gastamos uma boa parte de nossos dias com tantas coisas inúteis. Perdemo-nos em fazer coisas e mais coisas, em comprar o que, na verdade, não precisamos, passamos horas diante da televisão ou do computador e, no fim do dia, parece-nos que falta algo que não é mensurável, nem racional, mas que passa pelas palavras de afeto, de compreensão, pelos gestos de amor, de cuidado, de acolhida, pelo jeito de olhar, de pedir perdão. Sentimos falta de algo que toque o coração.

Fomos, incrivelmente, criados para estarmos acima das coisas e para encontrarmos um jeito nosso de ser que nos faça felizes. É no agora que temos a possibilidade de reescrever a nossa história, mudando a direção em que empregamos nosso tempo e nossas energias. Sobre o essencial não há diálogo.

As pessoas estão adoecendo por falta de amor! Guardam mágoas por anos e anos e não conseguem perdoar. Gastam os dias e não vivem mais. Perdem-se por caminhos enganadores e sentem-se vazias, sem nada e ninguém.

O coração precisa parar, silenciar. Precisa encontrar-se consigo mesmo. É no silêncio que podemos recompor a vida que nos é sugada continuamente. A oração nos devolve a nós mesmos. Coloca-nos em contato com Deus que nos faz enxergar, neste turbilhão de coisas, o que, de fato, carrega o brilho da eternidade.

Limitar a vida apenas à materialidade, é tirar a possibilidade de renascer em cada dia com um novo coração.

Ir. Deuceli Kwiatkowski



segunda-feira, 23 de abril de 2012

Jornada, encontro com o Senhor!

Tudo estava consumado! O Mestre da vida estava morto e pendia de uma cruz de coração e braços abertos. Ninguém conseguia entender o que tinha acontecido. Tudo foi rápido demais e uma tristeza imensa tomava conta de todos em Jerusalém. Sentiam-se acabrunhados pela dor que caíra sobre aquele homem que amava a todos e curava os doentes, que acolhia as crianças e perdoava os pecadores, que escolheu seus discípulos para falar-lhes de um Reino diferente onde o amor era o maior mandamento.

Mas esse não era o fim. Dois jovens deixavam Jerusalém e caminhavam pela estrada em silêncio, tristes, desiludidos, decepcionados. Dirigiam-se para a pequena aldeia de Emaús porque tinham abandonado o grupo.

Inesperadamente, Jesus aproximou-se dos dois e quis caminhar com eles e no ritmo deles. Compreendeu a dor, a tristeza, a solidão daqueles rapazes que queriam só entender o que tinha acontecido naqueles últimos dias.

Jesus entrou no tempo deles. Aos poucos, foi se revelando, devolvendo-lhes a alegria de viver e, uma fé viva e forte renasceu, como nunca tinham sentido. Tudo se transformou e o vazio que sentiam, deu lugar à maior certeza que já tinham experimentado: Cristo caminhava com eles e jamais os abandonaria.

Aqueles dois jovens, sedentos de vida, fizeram juntos, com o próprio Mestre, a jornada mais importante e decisiva de suas vidas. Foi o encontro mais profundo e verdadeiro que mudou para sempre os seus corações.
Dois mil anos já se passaram, desde aquele encontro e, agora, não apenas dois jovens viverão a inesquecível experiência de fazer uma jornada com o Senhor, mas milhões deles virão, de todos os lugares do mundo, para este encontro de fé na cidade do Rio de Janeiro.

A Jornada mundial da Juventude é um encontro de amor, sonhado por Deus e abraçado pelos jovens. Desde 1985, continua a mostrar ao mundo o testemunho de uma fé viva, transformadora e a mostrar o rosto de Cristo em cada jovem.
É um encontro de corações que creem, movidos pela esperança de que a fraternidade na diversidade é possível. Milhões de jovens querem celebrar, juntos, a beleza da fé e encontrar respostas para suas inquietações interiores.

“Nossos jovens não temem o sacrifício, diz Bento XVI, mas temem viver uma vida sem sentido”. Só o encontro com o Senhor permite que façam o encontro com o outro porque a disponibilidade para Deus abre à disponibilidade para os irmãos e para uma vida entendida como tarefa solidária."Ide e fazei discípulos entre todas as nações" (Mt 28,19). Sem Deus, não saberão para onde ir e não conseguirão sequer compreender quem sejam.

A fé cristã é uma bela jornada de encontro com o Senhor! Ele se põe a caminho para estar conosco e, assim, fazer renascer, em cada um, a chama viva da fé, da esperança e do amor.

Ir.Deuceli Kwitakowski

domingo, 22 de abril de 2012

Meu primeiro alimento!

Nossos dias, muitas vezes, se tornam tão pesados, tão cheios de desânimo e desesperança, sem vontade de lutar por algo que vale a pena, sem desejo de novos investimentos pessoais, sem encantos pelas coisas belas e simples da vida, pelos gestos de amizade e de amor como um simples telefonema de um amigo que liga para dizer: “você está bem?”. Parece que nada nos toca, o sol não brilha e, incrivelmente, tornamo-nos pessoas sem sabor, literalmente sem gosto algum.

Fiquei pensando: por que será que isso acontece? Por que apenas gastamos nossos dias e não vivemos intensamente? Parece que estamos sempre com o corpo em um lugar e o espírito em outro. Será que viver assim traz felicidade ou provoca um vazio incrível que nos arrasta para nós mesmos ou para o fundo do poço onde há pouca luz, espaço e muita solidão?


A pergunta essencial é: de que me alimento todos os dias? Qual é a fonte onde bebo para que meus dias sejam iluminados e possa assim dar sentido a tudo o que faço para não ser mais um desfalecido na multidão?


Talvez estejamos nos alimentando de forma errada. Muitas vezes, logo pela manhã, nosso primeiro alimento é a TV. Ligamos a televisão num ato automático e, desde cedo, permitimo-nos ouvir mais de 90% do que passa, de desgraças acontecendo ao redor do mundo ou tão perto de nós. Ficamos estarrecidos e dizemos: “Meu Deus, como pode isso e aquilo, o mundo está perdido mesmo, as pessoas não têm mais jeito, é o fim do mundo, etc. Será?

É claro que não podemos ficar alienados, sem saber o que se passa no mundo. Porém, não podemos pensar que os seres humanos são todos desumanos e que o mundo é um verdadeiro caos. Há, sim, muita esperança sendo semeada, muito amor sendo repartido, muita gratuidade sendo ofertada, muitas vidas sendo salvas e muitos jovens, crianças e adultos sendo recuperados de seus vícios.

Lamentavelmente quase não vemos o bem na TV e, quando vemos, ficamos tão surpresos como se fosse algo inédito. Vira manchete! E sabemos que não é assim. O amor existe e está em nós e nos outros. Basta olharmos ao nosso redor e encontraremos gestos de amor que nos tocam profundamente e alimentam em nós a esperança e a fé no ser humano.

Voltemos à pergunta: qual deveria ser o nosso primeiro alimento em cada novo dia? Sem dúvida, ao abrirmos os olhos e ao percebermos que estamos vivos, nosso primeiro encontro deveria ser com Deus, porque a sua palavra é o alimento verdadeiro que nos move para a vida do mundo. 


Se não nos alimentamos diariamente desta esperança viva que encontramos somente em Deus, não seremos portadores de luz e de boas notícias para todos aqueles que encontrarmos em nossos dias.

Como diz a letra de uma música: “O mundo pode nos fazer chorar, mas Deus nos quer sorrindo” porque sabemos em quem acreditamos (Fl 4,13).

Ir. Deuceli Kwiatkowski

Perto de um poço!

Eis que, ao meio dia, surge uma mulher Samaritana (Jo 4,1-30). Sol forte, já cansada dos trabalhos diários e da vida difícil e penosa. Vai só, junto ao poço buscar sua água. Mais que o peso do cântaro, carrega o peso de sua história. Ela tem sede de outra água e de outra história. Mas é na sede recíproca que o encontro inicia. Jesus olha para aquela mulher, dirige-se a ela e lhe pede água.

Provocativa, defendida, interessada e interessante, a Samaritana é colocada diante de sua sofrida realidade: seu vazio existencial. Viveu tantas experiências e sua dor é grande. Onde poderia encontrar significado para viver seus dias e não apenas gastá-los? Tinha tanta sede de felicidade, de paz, de amor.

O diálogo continua e é como se ela dissesse para Jesus: “Não tenho amor! Não sei o que é o amor verdadeiro”. Sua solidão agora lhe permite ouvir e sentir a voz daquele homem que também ela esperava. Ele era diferente! Seu olhar era de compaixão e misericórdia, suas palavras fortes e penetrantes. “Sou Eu, Aquele que fala contigo”.


A sede, a água, a sua história terão, para sempre, um outro significado depois do encontro naquele poço. Fascinada com aquele homem, ela deixa seu cântaro e sai para dizer a todos: “Vinde ver um homem que realmente conhece o profundo de meu ser, de minha sede, de minha vida!”.


Verdadeiramente o amor só acontece quando entramos no tempo do outro, na sua realidade, na sua dor.


Somente Deus conhece o nosso coração. Ele não se impõe. Sua presença amorosa chega, suavemente, até o mais profundo de nosso ser e ali, permanecerá para sempre. Se o buscarmos, ele nos saciará com a água da vida e jamais morreremos de sede.

O Evangelho não continua a história daquela mulher samaritana. Está em aberto para que cada um de nós a complete pessoalmente, na incessante busca do Dom de Deus e na profunda adoração em Espírito e Verdade.

Que nunca nos falte sede, coragem, paixão para voltarmos às profundezas do poço de Jacó e, daí, partirmos fascinados!

Ir. Deuceli Kwitkowski

sábado, 21 de abril de 2012

Livres para amar!

“Homem verdadeiramente bom é aquele que, mesmo podendo, não faz o mal”.

Mistério insondável de um Deus que nos criou para a felicidade porque quer que sejamos felizes. Ao mesmo tempo, coloca em nossas mãos a possibilidade de negarmos voluntariamente este desejo do Criador.

Deus criou-nos como pessoas livres e quer a nossa liberdade para podermos optar, de todo coração, pelo Bem, ou seja, por Deus. “Só quem criou o ser humano, o pode fazer feliz” Santo Agostinho.

Quanto mais praticamos o bem, mais livres nos tornamos porque o amor tem a força de dilatar o coração para irmos ao encontro de quem necessita. Quem ama é feliz porque quando amamos nos tornamos pessoas melhores, mais serenas, mais disponíveis e capazes de nos empenharmos por aquilo que, de fato, é essencial. São Paulo nos diz: “Avaliai tudo e ficai com o que é bom e tem valor” (1Ts, 5-21).

Tristemente o pecado nos torna escravos. Quanto mais pecamos, mais pensamos apenas em nós mesmos, tornamo-nos pessoas egoístas e mesquinhas, incapazes de fazer florescer o bem. Uma pessoa é livre quando diz sim ao bem, quando nenhum vício, pressão ou hábito a impede de escolher e praticar o que é correto e bom. Quanto mais uma pessoa conhece o bem e atua nele, tanto mais se afasta da escravidão do pecado. Torna-se, assim, instrumento de paz e de amor.

Deus sonha com pessoas assim: livres para assumirem a responsabilidade por si mesmas, pelo seu meio e pelo ambiente em que vivem. A liberdade mais profunda e verdadeira é construída o tempo todo no exercício das pequenas escolhas. Deus não nos abandonou em nossos juízos próprios, mas nos deu a capacidade para distinguirmos as ações boas das más. Todos temos consciência quando agimos mal, quando não correspondemos ao bem e tomamos atitudes que geram rancor, raiva, mágoa, desrespeito, insensatez, intolerância. O pecado entristece a alma porque rouba a paz.

“Quem se abandona totalmente nas mãos de Deus não se torna um fantoche de Deus, alguém conscientemente aborrecido que perdeu sua liberdade. Somente quem confia em Deus totalmente encontra a verdadeira liberdade, a grande e criativa vastidão da liberdade do bem. Quem recorre a Deus não se torna menor, mas maior, porque, graças a Deus e justamente com Ele, se torna grande, divino, verdadeiramente ele mesmo” Bento XVI.

Madre Tereza de Calcutá nos lembra: “Só Jesus é o Caminho, que vale a pena seguir; a Luz, que vale a pena acender; a Vida, que merece ser vivida e o Amor, que vale a pena amar”.

Ir. Deuceli Kwiatkowski

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Bálsamo precioso!

Quando parece que já vivemos boas experiências, a vida nos surpreende com algo inédito que dificilmente pensaríamos viver em circunstâncias normais da vida.

Há alguns dias vivi uma destas surpresas que acontecem poucas vezes na vida. Recebi um convite para ir a um complexo penitenciário aqui, na cidade do Rio de Janeiro, para levar uma palavra de esperança a um grupo de jovens detentos.

Inicialmente, fiquei um pouco apreensiva com o convite, por saber de onde se tratava, mas sem hesitar, disse logo meu sim. Senti, naquele momento, que era um convite especial de Deus para mim e eu devia ir, sim, para estar com aqueles rapazes. Não pensei em mim, na minha segurança física, nos contratempos ou coisa parecida que pudessem me impedir de viver esta experiência. Só sabia que não poderia negar-lhes a possibilidade de falar da essencialidade da vida.

Alguns dias me separavam deste momento e assim pude, antes de tudo, colocar-me na presença de Deus para entender o que Ele queria que eu falasse. Implorei-lhe que nenhuma palavra saísse de minha boca para magoá-los ou condená-los e que, de meus olhos, eles percebessem somente o meu amor fraterno.

Assim aconteceu. Preparei-me intensamente e, serenamente, cheguei ao local. Pedi a Deus que fosse à minha frente porque com ele estaria segura. Inicialmente é impactante o local. Muros altos limitando a liberdade física, policiais armados por todos os lados, um clima pesado de vigilância contínua, olhares fechados. Mas, aos poucos, conforme adentrava, comecei a ver uma variedade imensa de rostos. Cada um com sua história e seu passado, seus arrependimentos e seus desejos, seus sonhos e desalentos. Muitas coisas passaram na minha cabeça e pensei: estão aqui perdendo a vida que não volta mais... os filhos estão crescendo, os pais envelhecendo, as esposas vivendo da ausência... e a vida passando. O tempo não perdoa.

É uma realidade dolorosa que nos frustra profundamente, mas também nos humaniza. Muitos são vítimas de um sistema que os exclui e os faz perder tudo o que têm, até a própria dignidade.

Ao entrar na sala, encontrei-me com aproximadamente 30 homens. Muitos bem jovens, outros de meia idade e alguns mais envelhecidos pelo tempo. Fiquei surpresa com a acolhida e com os olhares serenos e atentos. Disse, inicialmente, que tudo o que tinha preparado para eles, eram coisas muito importantes para a minha vida e desejava que também fossem para eles porque cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

Foi realmente uma troca de dons! Eles falavam daquilo que acreditavam, daquilo que não poderia morrer dentro deles para permanecerem vivos interiormente e para serem continuamente despertados e animados para um dia alcançarem a liberdade novamente. A fé torna-se verdadeiramente um bálsamo precioso para aqueles que a buscam.


Em muitos momentos, a Palavra de Deus surgia como fonte de vida e de luz e aquele lugar se enchia de bênção. Sem dúvida alguma, é esta palavra que mantém viva a esperança no coração daqueles homens que erraram nas suas escolhas ou foram vítimas delas.

Não somos melhores do que eles. Tivemos apenas boas oportunidades que nos conduziram por outros caminhos. “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7). Que estas palavras de Jesus não nos deixem esquecer jamais a nossa condição de pecadores e que elas nos coloquem sempre no caminho da humildade, porque não viemos ao mundo para condenar, mas para juntos vivermos a misericórdia.

Ir. Deuceli Kwiatkowski

terça-feira, 17 de abril de 2012

Qual foi o meu jeito de amar?

A correria da vida, os compromissos e as preocupações diárias, muitas vezes, nos atropelam e podem nos tirar algo que é muito precioso: nossa espiritualidade.

Mas o que é a espiritualidade? É a sensibilidade para captar o outro lado das coisas, para perceber aquilo que está sempre presente, mas que escapa aos nossos olhos desatentos, distraídos ou desfocados da essencialidade da vida. A espiritualidade nos dá um novo olhar sobre as coisas, sobre as pessoas, sobre a vida. Coloca-nos numa atitude de vigilância para não perdermos o amor como valor fundamental da existência humana.

Muitas vezes, quase sem nos darmos conta, tornamo-nos insensíveis às pessoas, à dor, à aflição humana e pouco nos empenhamos em criar espaços de acolhida concreta, serena e harmoniosa.

Podemos nos perguntar: de onde nasce a espiritualidade?

A espiritualidade nasce de um ser humano faltante. Frequentemente esquecemo-nos que não somos completos e que sempre há algo que falta em nós.

Faltam gestos de amor mais eficazes e duradouros, palavras mais coerentes com as nossas escolhas fundamentais de fé, sentimentos mais profundos que se desdobrem em ações solidárias e em verdadeiro interesse pelo bem do outro, atitudes de tolerância e de respeito pelas diferenças, sensibilidade para colocar-se ao lado das pessoas sem um olhar de condenação ou julgamentos desnecessários e contraditórios.

Somente quando sentimos esta falta em nós é que nos colocamos no caminho da busca. Todos somos seres incompletos, em constante processo de mudança. O desejo de sermos melhores para estarmos acima da materialidade sempre nasce de um coração que percebe seus limites, que sente sua fragilidade, que entende sua condição humana e que encontra, na amizade com Deus, um banho de luz.

O contato com a realidade do outro, por vezes, tão doída e tão faltante em tantos aspectos da vida humana nos frustra, mas também nos humaniza. Educa nosso olhar para não condenar, educa nossos ouvidos para perceber o que não foi dito, disponibiliza nosso coração para amar mais e melhor. Torna-nos melhores porque aperfeiçoa nosso jeito de viver entre as pessoas.

Não podemos perder a oportunidade de aprender com o que a vida nos oferece. “Cargos passam, filhos crescem, amigos se vão, pessoas adoecem, despedidas acontecem, o tempo passa... e, um dia, a vida se ausenta”. Pe. Adriano Zandoná


E, então, no entardecer da vida ouviremos, no silêncio do coração, uma voz que nos dirá: qual foi o seu jeito de amar? Para não ter vivido em vão...

Ir. Deuceli Kwiatkowski

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Inscrita no coração!

“Deus escreveu sobre as Tábuas da Lei o que a humanidade não leu em seu coração”. Santo Agostinho

Deus nunca desistiu de nós! Como pode um Deus ocupar-se pessoalmente das suas criaturas com um amor que vai além de tudo que podemos imaginar nesta vida? Um amor assim se torna incompreensível para nós porque toca no limite de nossos conceitos.

É comovente ler que ao longo da história da humanidade Deus mesmo foi se revelando ao homem, pouco a pouco, passo a passo, sem pressa. Ele usou a pedagogia da ternura, da firmeza, da paciência, do amor. Ele esperou o tempo necessário para que entendêssemos que fomos feitos à sua imagem e semelhança e que o nosso coração continuará sempre inquieto enquanto não trilhar pelos seus caminhos.

O Criador inscreveu em cada coração humano a lei natural. Inscreveu esta lei para que todos pudéssemos distinguir entre o bem e o mal. Seria como uma bússola ou como uma medida interior para vivermos nossos dias na simpatia afetuosa, na atenção recíproca e na responsabilidade mútua com todos aqueles que partilham conosco o dom da vida.

Mas o homem não conseguiu ler em seu coração esta lei, frequentemente ofuscada pelo pecado e pela fraqueza humana. Perdeu-se por caminhos errados e deu ouvidos ao mal. Permaneceu desorientado e sem força interior para cumprir a lei que o prepararia para a fé em Deus Salvador. Não quis empenhar-se por Deus.

Mas Deus insiste e agora grava sua lei na pedra para que não se apague mais. Sua vontade é revelada claramente ao povo que estava no deserto da vida. Seguir esta lei seria para aquele povo o principal caminho de salvação porque o ser humano necessita da ajuda de Deus.

Os Dez mandamentos não são uma imposição arbitrária de um Deus tirano. Eles, na verdade, salvam o ser humano da força destruidora do egoísmo, do ódio e da mentira. Evidenciam todos os falsos deuses que o arrastam para a escravidão: o amor de si mesmo até à exclusão de Deus, a avidez do poder e do prazer que subverte a ordem da justiça e degrada a nossa dignidade humana e a do próximo.

Deus não se cansa de nos amar! Tudo está a nosso favor e à nossa disposição para caminharmos com dignidade, como filhos de Deus, vivendo o mandamento maior que é o Amor.

No seu amor, Deus encontrou um caminho no qual Ele extermina o pecado, mas salva o pecador. Sintamo-nos amados por um Deus que não se cansa de nos atrair para Ele para nos mostrar os caminhos que conduzem à vida.

Ir. Deuceli Kwiatkowski

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Pela fé!

“O homem que procura existir apenas naquilo que é calculável e mensurável, no final permanece sufocado”. 

Com estas palavras, o Papa Bento XVI identifica muito bem a urgência para a qual somos chamados a dar uma resposta, para sair deste sufocamento no qual tantas vezes nos encontramos vivendo.

Estas palavras identificam profundamente aquilo que está em questão: o nosso relacionamento consciente, construtivo, realizado, satisfatório com Deus. Sem Ele, a vida se torna pequena demais e as preocupações da vida parecem nos tirar o ânimo e a esperança.

Precisamos ficar atentos: olhar fixo em Jesus Cristo, autor e consumador da fé. Nele encontramos plena realização de nossas aflições, a alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão diante da ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte.

Pela fé, Cristo deu sua vida em favor da humanidade. Pela fé, os apóstolos morreram testemunhando a verdade do Evangelho que os transformara, tornando-os capazes de chegar até o dom maior do amor com o perdão dos seus próprios perseguidores. Pela fé, Maria, mãe de Jesus, acolheu a palavra do anjo e acreditou no anúncio de que seria Mãe de Deus. Pela fé, milhares de homens e mulheres fizeram de sua vida um anúncio visível das palavras de Cristo até a entrega radical da própria vida.

Assim como milhares de pessoas viveram pela fé, hoje também nós somos chamados a descobrir de novo a alegria de crer.

Pela fé, nós cremos que Jesus Cristo é o Filho de Deus que viveu entre os homens e, como ninguém jamais viu, ensinou a todos o caminho que conduz à salvação; pela fé, nós cremos na sua palavra que orienta nossas atitudes para o amor e para o bem.

Pela fé, nós cremos que Jesus está vivo em nossa vida e em nossa história; pela fé, reunimo-nos em comunidade para celebrar a Eucaristia, alimento para nossa alma; pela fé, nós cremos no mandamento novo do amor; pela fé, nós anunciamos que Deus existe e caminha conosco e, por isso, não há motivo para o desespero.

Pela fé, nós compreendemos que quem ama perdoa sempre; pela fé, nós aceitamos o sofrimento e a dor como caminho de santificação e salvação; pela fé, nós estendemos a mão a quem precisa de nossa ajuda e proteção sem esperar nada em troca; pela fé, nós invocamos a Deus, em oração, para que venha em nosso auxílio; pela fé, nós cremos que aquele que acredita em Deus nunca está sozinho.

Dom maior não poderia existir para nos ajudar no caminho da santificação diária. Precisamos da ajuda divina para que a nossa fé não seque como uma gota de orvalho ao sol, para não sucumbirmos à materialidade, para que o nosso amor não se afunde em atitudes egoístas, para não trairmos os pequenos, fracos e abandonados.

Caminhemos com os olhos iluminados pela fé e pela esperança, na certeza de que Deus caminha conosco.


Ir. Deuceli Kwiatkowski

sábado, 7 de abril de 2012

É preciso voltar!

Fazer parte deste mundo é um dom maravilhoso que nos comove profundamente porque vamos vivendo no tempo a descoberta de quem somos, do que podemos realizar, como podemos crescer ou avançar naquilo que é essencial em nossa vida. Aos poucos, percebemos nossos dias como uma oportunidade bonita e, então, encontramos um jeito nosso de viver, de agir e de ser.

Mas, só viver gastando os próprios dias não basta! A vida é muito mais do que isso! Por graça divina, fomos visitados e descobrimos o caminho da fé. Reconhecemos o tempo em que Deus nos visitara.

Cremos que Ele entrou na história da humanidade, aproximou-se pessoalmente do ser humano, como jamais havia feito antes. Caminhou por entre os homens curando das doenças com uma única palavra, anunciando a todos a verdade, amando os pecadores de um jeito que jamais alguém viu.

A aproximação de Deus se revela aos que estão atentos e vigilantes, aos que têm um coração aberto, simples e humilde. Aos outros, porém, Deus passa despercebido porque continuam cegos e despreparados, com o coração pesado pela devassidão, pelos vícios e preocupações da vida. 


“Não conseguem pôr-se para fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, e vida em plenitude” Bento XVI.

Depois deste encontro com Deus não podemos aceitar que a luz fique escondida e que o sal fique sem sabor (Mt 5,13-16). Precisamos voltar sempre aos lugares onde Deus nos fala para sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana ao poço, para ouvir Jesus que nos convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte, donde jorra água viva (Jo 4,14). É ali perto do poço que beberemos água limpa e pura que saciará a nossa sede e renovará nossa fé sempre que desejarmos.

A fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido. Ela nos torna fecundos porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer ao mundo um testemunho que é capaz de gerar novos filhos para Deus.

Sejamos discípulos e missionários de Cristo! Quem encontrou a água da vida deve oferecê-la aos outros para que também eles bebam da água que jorra para a eternidade. Não podemos esquecer que o amor é agora e que muitas pessoas estão morrendo de sede porque não sabem onde encontrar a água que salva, que cura e que libera.

Ir. Deuceli Kwiatkowski

domingo, 1 de abril de 2012

Um sim à minha dor!

A cada dia notícias chegam de todas as partes do mundo. Algumas interessantes, outras nos deixam perplexos, outras, porém, não quereríamos nem ter tomado conhecimento porque nos ferem a alma.

Certo é que temos milhares de possibilidades de acesso às mais variadas informações que são produzidas a cada minuto pelo mundo afora. Tudo isso nos mantém num movimento forte. Mas a vida também nos traz notícias que nos tocam diretamente e, muitas vezes, é dura demais a realidade.

Há pouco tempo li algo que me fez pensar. Eram dois amigos conversando num destes momentos sem luz em que queremos apenas alguém por perto para nos ajudar a enxergar na escuridão. Dizia o seguinte: “Estou doente. Mas tenho muitos projetos ainda em mente. E agora, como é que posso levá-los adiante com a minha doença?”

Certamente dura demais esta notícia para ser dada a um amigo. Encontrar a palavra certa para alguém nesta situação não é fácil porque quem faz a experiência da dor, da incerteza é o outro. Nós ficamos apenas por perto e, quantas vezes não pensamos até com um certo medo, “poderia ser comigo!”

A resposta vem com tamanha força que nos faz pensar: “Meu caro amigo, o que é que você tem de mais interessante para dizer e para fazer na vida do que o seu “sim”? Você tem em mente algum projeto, neste momento, mais interessante do que dizer “sim” a Cristo, por meio desta modalidade com a qual ele lhe chama?

Como reagir diante destas palavras? Quando encontramos alguém que nos salva, qual é a nossa missão? Testemunhar a todos o que pode significar a vida, a intensidade que ela pode adquirir se a pessoa se deixa abraçar por Cristo, salvar por Ele. Não existe testemunho maior do que ver uma pessoa florescer. É como se pudéssemos dizer: “Olhem, nem mesmo a dor, nem mesmo todo o mal, nem mesmo todo desastre, nem mesmo toda crise, nem mesmo tudo isso é incapaz de impedir um homem de florescer. Não há um testemunho maior do que desafiar a todos os pessimistas ou não, dizendo a todos com a própria vida”.

Olhando para o mundo, perguntamo-nos: do que os homens precisam? Precisam ver uma pessoa que se deixou tomar por Cristo e que, desta forma, testemunha para todos o que é a vida quando nos deixamos tocar, abraçar e amar por Ele.

Porque não há nada que possa nos separar do Amor de Deus. Não há nada e o motivo é um só: Deus nos ama e quem ama cuida!

Ir. Deuceli Kwiaktowski