sábado, 2 de maio de 2015

Um olhar de misericórdia para a dor do mundo

Olhemos para o mundo... olhemos para o nosso coração.

Quantas guerras acontecendo, quanto sofrimento nos corações, quantas lágrimas derramadas, quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. Há miséria por todos os lados, há tristeza, há dor, muita dor.

Este é o mundo no qual vivemos e no qual podemos fazer nossa opção. Optar por ajudar a cuidar das feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com amor e solidariedade.

Não permitamos que a agitação do mundo e o egoísmo nos deixem cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade do amor generoso, no cinismo que destrói e condena.

Somente o coração humano tem consciência da própria dor e do tamanho que ela tem. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantas pessoas que vivem privadas da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda.

As nossas mãos apertem as suas e estreitemo-las a nós para que sintam o calor da nossa presença, da nossa amizade, da nossa fraternidade sincera. Que a sua dor se torne a nossa para que, juntos, possamos romper a barreira da indiferença que reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo da humanidade.

“Em cada um destes pequeninos, está presente o próprio Cristo. A sua carne torna-se de novo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga... a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós. Não esqueçamos as palavras de São João da Cruz: “No entardecer da vida, seremos julgados pelo amor”. Papa Francisco

O mundo sofre! Em algum lugar de dor alguém chora, alguém pensa em desistir, alguém precisa da minha oração. Rezemos pela humanidade que sofre e confiemos que o Senhor estará sempre ao nosso lado, ajudando-nos a ultrapassar a via dolorosa.


Ir. Deuceli Kwiatkowski

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Meu filho é um homem bom!

Em nossos dias ouvimos e vemos tantas coisas que rapidamente esquecemos por vários motivos. E isso é bom porque não daríamos conta de absorver tudo ao longo da vida. Esquecer também é necessário e é importante para a nossa saúde mental.

Mas há coisas que ouvimos e atitudes que presenciamos que ficam em nós, mesmo que os anos passem, não esquecemos jamais porque, de alguma forma, tocaram nosso coração na essência daquilo que corresponde ao que também acreditamos.

Alguns anos atrás, um grande professor contou-me uma inesquecível experiência vivida por seu pai que estava diretamente ligada a ele como filho.

Muitos e excelentes professores de um renomado curso de medicina estavam reunidos em um momento de intervalo das aulas. Numa boa e descontraída conversa, cada um se adiantava em falar: “o meu filho é médico cardiologista”, “o meu é advogado de uma grande empresa multinacional”, “o meu é um engenheiro bem sucedido”, “o meu é economista com especialização no exterior”...e assim seguiram falando dos sucessos profissionais dos filhos, das conquistas alcançadas, dos encaminhamentos que estavam dando, das novas possibilidades de trabalho. Sem dúvida, era muito orgulho para pais dedicados e que desejavam o melhor para seus filhos.

Em um determinado momento, entre tantos comentários de sucesso e de bons empreendimentos, alguém se dirigiu a um médico que estava só ouvindo os seus colegas de trabalho e perguntou-lhe: E o seu filho, doutor, o que ele é? Calmamente e com a sabedoria que é própria de quem já descobriu a essência da vida, respondeu: Meu filho? Meu filho é um homem bom!

Todos se calaram surpresos com a resposta dada pelo médico. Antes de ser um excelente profissional, seu filho era um homem bom. Um homem de caráter, de valores humanos profundos, de visão ampla e solidária, de sensibilidade e capacidade de ir ao encontro das pessoas. Um homem que usava o conhecimento profissional para servir, para elevar o outro. Um homem de coração generoso e um filho, talvez único, naquele momento em que o sucesso profissional falava mais alto.

Por que a surpresa de todos? Talvez porque no afã do fazer esqueceram-se do ser. Quantos ali não poderiam repetir esta afirmação: Meu filho é um homem bom!  Aquele pai tinha formado o coração daquele filho no amor. Gastou tempo para ensinar-lhe que sabedoria e inteligência, quando juntas, são virtudes que transformam o mundo. Ele sabia que conhecimento apenas não forma caráter, que conhecimento apenas pode gerar prepotência, orgulho, insensibilidade. A formação de valores e o conhecimento profissional juntos podem construir um ser humano mais completo, mais competente que, sem dúvida, deixará marcas profundas de seu comprometimento com a humanidade. Quem dera se todos os pais pudessem dizer: “Meu filho é um homem bom e, por isso, um excelente profissional”.

Se desejamos um mundo melhor, é necessário, portanto, formar mentes e corações capazes de ir além do sucesso profissional porque ele é apenas consequência.

 Ir. Deuceli Kwiatkowski


segunda-feira, 2 de março de 2015

Tudo está consumado!

"Tudo está consumado..."  Eis o silêncio de um Deus que se deixa calar por nós porque nos ama até a loucura da cruz! Diante deste insondável mistério só podemos permanecer em silêncio, contemplando-o com seus braços abertos, presos à cruz abraçada com a liberdade que é própria de corações divinos!

“Tudo está consumado...” Uma cruz aceita com o mais puro amor porque sabia que devia cumprir até o final o projeto do Pai: revelar ao mundo o seu AMOR!

“Tudo está consumado...” Não são os pregos que o prendem à cruz, mas seu imenso amor pela humanidade, por mim, por você. Mistério sem fim de um Deus que se deixa prender para nos libertar da escravidão do pecado e do mal.

Contemplemos no mistério do calvário o supremo mistério do Amor! Não há amor maior do que dar a vida pelos seus amigos!  Na cruz de Cristo encontramos a força para vivermos, na fé, também nossa parcela de dor enquanto ainda peregrinamos nesta vida, na via-sacra da humanidade! É uma pequena parcela que nos aproxima dele e nos faz mais parecidos com Ele.

No silêncio Deus se revela. Agora aguardamos, ansiosamente, o domingo. Peçamos ao Senhor da Vida a graça de continuarmos a procurá-Lo, também na hora da dúvida, também quando o sol desaparece, o caminho se faz difícil e a vontade do Pai não é fácil de se fazer.

No silêncio Deus se revela. Agora aguardamos, na fé, a vitória da vida sobre a morte. Peçamos ao Senhor da Vida o dom da fé para que, mesmo que a tempestade seja densa na nossa vida, mesmo que a noite fique escura, não deixemos de crer que a misteriosa presença de Deus está conosco.

Que a revelação de Jesus que nos diz até que ponto Deus se dispõe a nos amar, seja para nós a incrível possibilidade de sairmos de nosso medo de amar e de servir. É do dom gratuito de Cristo crucificado que jorra a fonte do amor. Não morramos de sede! Vamos até a fonte e ali sempre encontraremos água viva que nos conduzirá à eternidade.

Ó Senhora das Dores, Mãe admirável do Filho de Deus, nós vos contemplamos pela fé, aos pés da cruz. Uma espada de dor transpassou vossa alma como predissera o velho Simeão. Vós sois  a Mãe das dores e continuais a sofrer as dores do nosso povo, porque sois Mãe companheira, peregrina e solidária.   

Recolhei, em vossas mãos, os anseios e as angústias do povo sofrido, sem paz, sem pão, sem teto, sem direito a viver dignamente. E com vossas graças, fortalecei aqueles que lutam por transformações em nossa sociedade. Permanecei  conosco e dai-nos o vosso auxílio para que possamos converter as lutas em vitórias e as dores em alegrias.  

Rogai por nós, ó Mãe, porque não sois apenas a Mãe das Dores, mas também a Senhora de todas as graças. Amém!


Ir. Deuceli Kwiatkowski

Lava pés: manifestação do amor perfeito!


É quinta-feira... Jesus sabe que é chegada a sua hora, mas Ele não parte sem antes realizar a Celebração do Amor... "Tendo amado os seus, amou-os até o fim". Quanta fidelidade existe nestas palavras! 

Este é o mistério da presença de um Deus que quis permanecer no caminho dos homens para que possamos nos amar uns aos outros, quis colocar-se nas nossas mãos: "Tomai e comei!" para que possamos encontrar nele a força para amá-Lo sempre mais! É o mistério do Amor de nosso Deus que não é para ser entendido, nem contestado, mas aceito e vivido na fé.

Em seguida, Jesus “levantou-se da mesa, depôs o manto e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Colocou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha que estava cingido”.

Jesus, Mestre e Senhor, deixa o seu lugar à mesa para tomar o lugar do servo. É a manifestação do amor perfeito, do amor daquele que veio para servir. Jesus inverte as funções, manifestando a novidade radical da vida cristã. Demonstra humildemente que amar com palavras e atos consiste, antes de tudo, em servir os próprios irmãos.

Este gesto constitui o sinal de reconhecimento dos discípulos. E hoje, neste momento, o próprio Jesus  pergunta a cada um de nós:

“Queres de verdade ser meu discípulo? Ide, sem medo, para servir: alimente a quem está com fome e dê água a quem está com sede!  Queres de verdade ser meu discípulo? Ide, sem medo, para servir: visite os doentes, anime-os na fé e na esperança, reze com eles, conforte-os na sua dor e sofrimento. Queres verdadeiramente tornar-se meu discípulo? Ide, sem medo, para servir: dê um bom conselho a quem está desorientado, corrija com amor os que estiverem no erro, console os aflitos e angustiados. Queres, de fato, ser meu discípulo? Ide, sem medo, para servir: acolha os peregrinos, proteja-os e vista os nus. Queres ainda ser meu discípulo? Ide, sem medo, para servir: reze pelos que já partiram desta vida e tenha sempre um coração cheio de misericórdia, ame, não condene. Se amares e servires assim, então serás meu discípulo amado aqui nesta vida e por toda a eternidade”.

Quem escolhe ser de Cristo e escolhe viver como Ele viveu neste mundo, encontra o sentido profundo da vida. Cristo nos deixou o exemplo a seguir, sigamos, portanto, seus passos. O amor e o serviço dão sentido à nossa vida, pois sabemos porque e por quem nos empenhamos. Servir é o caminho da felicidade e da santidade: assim, a nossa vida torna-se em cada dia um caminho de amor rumo a Deus e aos nossos irmãos.

Ir. Deuceli Kwiatkowski

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Mais uma vez é Quaresma: um convite à liberdade!

O Ano Litúrgico é um convite que se renova a cada ano para iniciarmos uma caminhada de transformação interior e comunitária. Ele nos toca, nos convoca, nos faz sair do lugar.

É um convite a uma mudança no estilo de viver, no jeito de ser. É um convite a uma mudança na escolha de palavras que não firam, não condenem, não criem muros de separação. É um convite a uma mudança qualitativa nas atitudes e gestos. É um convite à conversão sincera. É um convite a olhar para tudo aquilo que dávamos importância, para começarmos a dar importância a outras coisas. É um convite a reservar espaços e tempos maiores para dar consistência à nossa vida de fé.

É um tempo para perguntar-nos “o que há de Evangelho em nossas vidas, para examinar que lugar Jesus tem em nossos corações?” Pe. Adroaldo Palaoro

Estabelecer relações com o tempo e criar estratégias para bem vivê-lo nos ajuda a manter viva a chama da verdade. Viver não é fácil. Olhar para dentro de nós mesmos é desafiador. Sair do lugar onde estamos bem acomodados exige superação e vontade, muita vontade. Crescer como pessoa requer atenção e cuidado, perseverança e fidelidade.  Assim dizem os santos: “Um olhar frequente ao céu e tudo nos parecerá mais leve e fácil”.

Neste tempo especial de graça, somos chamados a viver as práticas quaresmais: oração, jejum e esmola. Assim diz Pe. Adroaldo: Por detrás de cada uma destas práticas está o desejo de Deus de ver-nos mais livres: livres para olhar mais além de nós mesmos, para olhar como Deus olha, graças à oração. 

Livres graças ao jejum, que ajuda a configurar nossa sensibilidade, que nos impulsiona a sermos críticos com certos excessos, com determinadas coisas que embora sendo supérfluas, exigem demasiada atenção e nos desgastam. 

Livres graças à partilha (esmola), para ir deixando de pronunciar a palavra “meu”, para configurar nosso tempo, nossas coisas, nossos dons, no horizonte das necessidades do outro”.

Não deixemos de responder a este belo convite quaresmal que nos oferece a desafiante possibilidade de nos colocar no caminho da verdadeira liberdade dos filhos de Deus. Enquanto não formos livres interiormente, muitas coisas nos prenderão ao chão da pequenez, da falsidade, da calúnia, da mentira, do egoísmo. Nosso coração não foi feito para coisas pequenas, mas para alcançar o que de melhor Deus preparou para aqueles que o buscam de coração puro e sincero.

Ir. Deuceli Kwiatkowski