quarta-feira, 17 de abril de 2013

Deixar falar o amor!


“O cristão sabe quando é tempo de falar de Deus e quando é justo não o fazer, deixando somente falar o amor”. Bento XVI

O que leva uma pessoa a deixar tudo, toda a comodidade, os próprios sonhos, a própria juventude para doar a vida em favor daqueles que a vida quase lhes tirou tudo, daqueles que foram abandonados pelos que tinham o dever de protegê-los e amá-los ou daqueles que a sociedade pouco se importa? Perguntas como esta só têm uma resposta... um grande amor.

Podemos questionar ideias, pontos de vista, convicções, mas diante do amor gratuito, puro, generoso, ficamos sem palavras. Podemos questionar a fé, os dogmas, a tradição, mas diante do amor incansável que se doa 24 horas para que crianças abandonadas, rejeitadas, órfãs tenham mais vida e dignidade e possam voltar a sorrir, ficamos sem palavras. Podemos questionar as estruturas, a hierarquia, o poder, mas diante do amor que não se cansa de amar e acolher, ficamos sem palavras. Podemos questionar as palavras, as decisões, os ensinamentos, mas diante do olhar amoroso que acolhe cada criança que foi salva por este mesmo amor, ficamos sem palavras. Podemos questionar decisões, direcionamentos, definições, mas diante do amor concreto, real, verdadeiro, ficamos sem palavras. Podemos questionar homens e mulheres, sermões e orações, mas diante do amor que vê além das aparências e que se entrega para gerar vida e esperança nos corações, ficamos sem palavras. Podemos questionar tudo, mas diante de alguém que deixa somente falar o amor, ficamos sem palavras.

Que poder tem o amor de nos calar, de nos tirar as palavras, de nos deixar no silêncio, de nos encantar! Que poder tem o amor de nos deixar corados de vergonha quando nos damos conta de que somos ainda tão egoístas, imaturos, mesquinhos, pobres, hipócritas em nossos julgamentos, atitudes, comportamentos! Que poder tem o amor de nos provocar e nos tirar a paz quando nos deparamos com a pequenez de nosso coração enquanto tantos vivem na amplitude de um amor que gera vida em abundância!

Que poder incrível tem o amor que encontrou em Deus a fonte do próprio amor!

Quero este amor... o amor concreto! Quero o amor que não vive apenas de palavras! Quero o amor que me lembre sempre que o essencial  está além do que os meus olhos podem ver. Quero o amor gratuito que me torne mais humana e sensível diante das pessoas. Quero o amor que me torne mais solidária e fraterna. Quero um amor maior! Quero o Amor de Deus que me ensina a amar na simplicidade dos pequenos gestos.

O amor existe e é possível vê-lo nas ruas, nos orfanatos, nas praças, nos asilos, nos hospitais, nas escolas, nas prisões, nas casas de recuperação. O amor está aí, bem perto de nós, no coração e na vida daqueles que entenderam que o maior mandamento deixado por Cristo é o mandamento do Amor!

Precisamos ver para sentir. Precisamos conhecer para não julgar. Precisamos estar perto para aprender a amar. Precisamos abrir os olhos para ver o amor espalhado no coração de milhares de homens e mulheres que decidiram colocar a própria existência para que outros tenham vida.

Ir. Deuceli Kwiatkowski  

terça-feira, 9 de abril de 2013

Não quero perder os detalhes da vida...


Nos pequenos detalhes descobrimos a beleza e a essencialidade da vida. Eles têm o poder de nos comunicar aquilo que só o coração consegue ver.

Trazem lembranças de tempos idos, acordam em nós atitudes esquecidas, alimentam certezas e esperanças, iluminam o coração, a mente e o olhar, confirmam sentimentos, trazem felicidade... recordam-nos que o mundo é muito maior do que o nosso próprio mundo.

Talvez a correria e as contínuas distrações a que estamos sujeitos em nossos dias nos impeçam de ver a beleza cotidiana escondida nos acontecimentos mais simples, puros e verdadeiros como, por exemplo, sentar-se à mesa para alimentar-se de pão e de vida, de olhares e de presença.

Não quero mais perder os detalhes da vida, por isso, decidi não viver correndo sem dar-me conta de que as pessoas estão em cada esquina, nas nossas casas, no trabalho, no ônibus, ao nosso lado esperando quem sabe apenas por um sorriso ou por um olhar para sentirem-se percebidas sem causa nem juízo, simplesmente por serem pessoas.

Decidi que não quero mais viver espalhando agitação, ansiedade, desassossego e pressa porque ninguém merece estar com a minha pior parte. Quero, sim, a paz daqueles que já descobriram o essencial da vida.

Decidi que quero fazer cada coisa no seu tempo, com serenidade e competência.  Muitas vezes o problema está na quantidade de itens da lista que temos para dar conta que não corresponde ao tempo que dispomos. Corremos o dia todo, ficamos estressados, pouco gentis, deselegantes e ainda, no final da jornada, com a triste sensação de não termos feito tudo. Erramos na medida, permanecemos eternamente cansados e, o pior de tudo, deixamos péssimas impressões por onde passamos. De que vale viver assim?

Façamos nossa lista, mas não nos esqueçamos de colocar tudo na ordem das prioridades. Nossa lista ficaria bem assim: primeiramente as que são essenciais, depois seguem as que são importantes e, por fim, aquelas que são secundárias. Observar prioridades facilita a realização dos compromissos, nos torna pessoas mais humanas e serenas e, sem dúvida, nos faz viver a singular experiência do amor.

Decididamente decidi que quero a beleza dos detalhes, a gentileza das atitudes, a verdade das palavras, o silêncio do coração, o amor na simplicidade...  assim vou seguindo, deitando o olhar e o coração aqui e ali e vou construindo meu jeito de ser, de pensar, de agir para, um dia, poder olhar para trás e não ter a sensação de não ter vivido como devia... na grandeza dos detalhes!

Ir. Deuceli Kwiatkowski

domingo, 7 de abril de 2013

No olhar... o próprio coração!


Todos certamente já vivemos experiências em que encontramos o olhar de alguém ou fomos encontrados por um olhar.

Os anos passam e nossa memória mantém viva certos olhares. Olhares que não esquecemos jamais.

Com o olhar, podemos transformar uma pessoa, destruí-la ou reconstruí-la, aniquilá-la ou fazê-la renascer, restituí-la a si mesma e ao futuro, fazê-la chorar ou consolá-la, exprimir-lhe raiva ou acolhimento, indiferença ou amor, decepção ou compreensão.

Com um olhar apenas podemos dizer-lhe o quanto ela é importante para nós ou o quanto ela já não significa absolutamente mais nada.

Existem olhares que irradiam luz e nos chamam, outros que espalham gelo e distanciam. Há um olhar que determina o fim de tudo, outro que dá começo ou recomeço. Há um olhar que recusa, outro que propõe e espera. Há um olhar que restaura e cura, outro que desconsidera e descarta.

Com o olhar, exprimimos disponibilidade ou indisponibilidade, dizemos à pessoa se ela pode ou não contar conosco, se ela é bem vinda ou não. Há o olhar autoritário que quer estar acima de todos, essência secreta do poder.

Tantas vezes o precioso presente que podemos dar às pessoas que convivem conosco é um olhar diferente. Um olhar cheio de esperança, de afeto e confiança. Um olhar que não condena, mas que encoraja e as faz seguir adiante, com fé na vida.

Mas de onde nasce esse olhar? O olhar nasce de nossos sentimentos. O olhar bom ou mau nasce lá onde habita a bondade ou a maldade.

Jesus atraía multidões e seu olhar era penetrante e luminoso, pleno de amor e compaixão, misericordioso e bondoso. Ninguém que tivesse sido encontrado pelo olhar de Cristo poderia esquecê-lo. Jesus, mestre da interioridade, dá atenção ao coração e não à imagem. Ele insiste para que tenhamos nosso mundo interior em ordem e habitado pela luz, aquele mundo de onde saem as ações boas ou más.

“A lâmpada do corpo é o teu olho. Se teu olho estiver são, todo o teu corpo ficará também iluminado; mas se ele for mau, teu corpo ficará escuro. Por isso, vê bem se a luz que há em ti não é treva”. (Lc 11,34-36)

Cuidemos de nosso interior e entremos na mesma visão de Jesus para que nosso olhar não se desvie da verdade e já não possamos olhar nos olhos daqueles que precisam de nosso olhar para continuar a caminhada da vida.

Ir. Deuceli Kwiatkowski

quinta-feira, 4 de abril de 2013

A elegância do comportamento

Há poucos dias recebi este texto que quero partilhar com você porque me fez bem ler estas palavras tão simples, mas tão belas nos seus gestos. Quem sabe se nós começarmos a recuperar este comportamento, possamos nos tornar pessoas mais elegantes. Boa leitura!

Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento. É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.

É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada. É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.

É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas, por exemplo. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros. É possível detectá-la em pessoas pontuais.

Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.

Oferecer flores é sempre elegante. É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar para o fazer... porém, é elegante reconhecer o esforço, a amizade e as qualidades dos outros. É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro. É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade. É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...

Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante. É elegante a gentileza. Atitudes gentis falam mais que mil imagens...
Abrir a porta para alguém é muito elegante... Dar o lugar para alguém sentar... é muito elegante... Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma. Oferecer ajuda é muito elegante... Olhar nos olhos, ao conversar, é essencialmente elegante...

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo. A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os desafetos é que não irão desfrutá-la.

Ir. Deuceli Kwiatkowski
Religiosa Marcelina – Rio de Janeiro