Ele deixou muitas saudades quando partiu! Agora temos a
riqueza de seus discursos para torná-lo bem presente ao nosso coração, já que
este é o portal pelo qual nós o acolhemos em cada momento em que esteve em
terras brasileiras e pelo qual ele mesmo ingressou.
Aqui está, parte do Discurso
do Papa Francisco feito ao Episcopado Brasileiro no dia 27 de julho de 2013.
Na riqueza de suas palavras e reflexões, a beleza do mistério de Deus em Nossa
Senhora Aparecida.
Como ele bem disse: “... não esqueçam a lição de Aparecida!”
Não queremos esquecer jamais que Deus veio nos visitar em
Aparecida! Temos uma Mãe que abençoa nosso imenso Brasil e, por isso, nós a
amamos com coração filial!
Diz ele: “Em
Aparecida, Deus ofereceu ao Brasil a sua própria Mãe! Mas, em Aparecida, Deus deu também
uma lição sobre Si mesmo, sobre o seu modo de ser e agir. Uma lição sobre a
humildade que pertence a Deus como traço essencial e que está no DNA de Deus.
Há algo de perene para aprender sobre Deus e sobre a Igreja, em Aparecida; um
ensinamento, que nem a Igreja no Brasil nem o próprio Brasil devem esquecer.
No início do evento que é Aparecida,
está a busca dos pescadores pobres. Tanta fome e poucos recursos. As pessoas
sempre precisam de pão. Os homens partem sempre das suas carências, mesmo hoje. Possuem um barco frágil, inadequado;
têm redes decadentes, talvez mesmo danificadas, insuficientes. Primeiro, há a
labuta, talvez o cansaço, pela pesca, mas o resultado é escasso: um falimento,
um insucesso. Apesar dos esforços, as redes estão vazias.
Depois, quando foi da vontade de Deus, comparece Ele mesmo
no seu Mistério. As águas são profundas e, todavia, encerram sempre a
possibilidade de Deus; e Ele chegou de surpresa, quem sabe quando já não o
esperávamos. A paciência dos que esperam por Ele é sempre posta à prova. E
Deus chegou de uma maneira nova, porque Deus é surpresa: uma imagem de
barro frágil, escurecida pelas águas do rio, envelhecida também pelo tempo. Deus
entra sempre nas vestes da pequenez.
Veem então a imagem da Imaculada
Conceição. Primeiro o corpo, depois a cabeça, em seguida a unificação de corpo
e cabeça: a unidade. Aquilo que estava quebrado retoma a unidade. O Brasil
colonial estava dividido pelo muro vergonhoso da escravatura. Nossa Senhora
Aparecida se apresenta com a face negra, primeiro dividida, mas depois unida,
nas mãos dos pescadores.
Há aqui um ensinamento que Deus quer
nos oferecer. Sua beleza refletida na Mãe, concebida sem pecado original, emerge da
obscuridade do rio. Em Aparecida, logo desde o início, Deus dá uma
mensagem de recomposição do que está fraturado, de compactação do que está
dividido. Muros, abismos, distâncias ainda hoje existentes estão destinados a
desaparecer. A Igreja não pode descurar esta lição: ser instrumento de
reconciliação.
Os pescadores não desprezam o mistério
encontrado no rio, embora seja um mistério que aparece incompleto. Não jogam
fora os pedaços do mistério. Esperam a plenitude. E esta não demora a chegar.
Há aqui algo de sabedoria que devemos aprender. Há pedaços de um mistério, como
partes de um mosaico, que vamos encontrando. Nós queremos ver muito rápido a
totalidade; Deus, pelo contrário, Se faz ver pouco
a pouco.
Também a Igreja deve aprender esta expectativa.
Depois, os pescadores trazem para casa
o mistério. O povo simples tem sempre espaço para albergar o mistério. Talvez
nós tenhamos reduzido a nossa exposição do mistério a uma explicação racional;
no povo, pelo contrário, o mistério entra pelo coração. Na casa dos pobres,
Deus encontra sempre lugar.
Os pescadores agasalham: revestem o
mistério da Virgem pescada, como se Ela tivesse frio e precisasse ser aquecida.
Deus pede para ficar abrigado na parte mais quente de nós mesmos: o coração.
Depois é Deus que irradia o calor de que precisamos, mas primeiro entra com o
subterfúgio de quem mendiga. Os pescadores cobrem o mistério da Virgem com o
manto pobre da sua fé. Chamam os vizinhos para verem a beleza encontrada; eles
se reúnem à volta dela; contam as suas penas em sua presença e lhe confiam as
suas causas. Permitem assim que possam implementar-se as intenções de Deus: uma
graça, depois a outra; uma graça que abre para outra; uma graça que prepara
outra. Gradualmente Deus vai desdobrando a humildade misteriosa de sua força.
Há muito para aprender nessa atitude
dos pescadores. Uma Igreja que dá espaço ao mistério de Deus; uma Igreja que
alberga de tal modo em si mesma esse mistério, que ele possa encantar as
pessoas, atraí-las. Somente a beleza de Deus pode atrair. O caminho de Deus é o encanto que
atrai. Deus faz-se levar para casa. Ele desperta no homem o desejo de guardá-lo
em sua própria vida, na própria casa, em seu coração. Ele desperta em nós o
desejo de chamar os vizinhos, para dar-lhes a conhecer a sua beleza. A
missão nasce precisamente dessa fascinação divina, dessa maravilha do encontro.
Falamos de missão, de Igreja missionária. Penso nos pescadores que chamam seus
vizinhos para verem o mistério da Virgem. Sem a simplicidade do seu
comportamento, a nossa missão está fadada ao fracasso.
A Igreja tem sempre a necessidade
urgente de não desaprender a lição de Aparecida; não a pode esquecer. As redes da Igreja são frágeis,
talvez remendadas; a barca da Igreja não tem a força dos grandes
transatlânticos que cruzam os oceanos. E, contudo, Deus quer se manifestar
justamente através dos nossos meios, meios pobres, porque é sempre Ele que está
agindo.
Queridos irmãos, o resultado do trabalho pastoral não assenta na riqueza dos recursos,
mas na criatividade do amor. Fazem falta certamente a tenacidade, a fadiga,
o trabalho, o planejamento, a organização, mas, antes de tudo, você deve saber
que a força da Igreja não reside nela própria, mas se esconde nas águas
profundas de Deus, nas quais ela é chamada a lançar as redes.
Outra lição que a Igreja deve sempre
lembrar é que não pode afastar-se da simplicidade; caso contrário, desaprende a
linguagem do Mistério. E não só ela fica fora da porta do Mistério, mas,
obviamente, não consegue entrar naqueles que pretendem da Igreja aquilo que não
podem dar-se por si mesmos: Deus. Às vezes, perdemos aqueles que não nos
entendem, porque desaprendemos a simplicidade, inclusive importando de fora uma
racionalidade alheia ao nosso povo. Sem a gramática da simplicidade, a Igreja se
priva das condições que tornam possível «pescar» Deus nas águas profundas do
seu Mistério”.
Deus seja louvado e amado por todos nós!
Ir. Deuceli Kwiatkowski