sábado, 10 de agosto de 2013

“Você está imitando Jesus!”

Quando a dor bate à nossa porta ou à porta de alguém que conhecemos ficamos sem palavras, tristes e, quase sempre, nos perguntamos: Por quê? Por que esta pessoa? Por que justo agora no auge da sua vida? Por que neste momento da vida com tantos projetos e sonhos a realizar? Por que agora quando tudo está caminhando bem? Por quê? Por quê? Por quê? Quantos por quês sem respostas!

A realidade da vida é dura, sofrida e exige de nós muita coragem, fé e perseverança. Olhar para ela e aceitá-la não é fácil; por vezes, queremos negá-la para não sofrermos e assim fugirmos da dor. Triste constatar, mas basta um diagnóstico inesperado e a vida pode mudar em segundos. Parece que tudo vira de cabeça pra baixo e já não conseguimos mais enxergar nada; é como se, a partir daquele momento, tudo começasse a morrer dentro de nós.

Há poucos dias ganhei, de uma grande amiga, um belo livro Conversas com Jorge Bergoglio, Papa Francisco, de Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti. Fiquei surpresa porque no capítulo 3, ele fala exatamente do sentido cristão que devemos dar à dor quando ela chegar.

Ele parte da sua própria experiência de sofrimento. Ainda muito jovem, aos 21 anos, Jorge esteve entre a vida e a morte. Febres altíssimas que não o deixaram por três dias seguidos. Parecia o fim. Ele recorda no seu livro que, entre tantas palavras de conforto ouvidas nos dias em que esteve sob os cuidados médicos, uma lhe tocou profundamente o coração. Uma Religiosa entrou no seu quarto e disse-lhe: “Você está imitando Jesus”. Estas palavras trouxeram luz à sua dor e deixaram-lhe a paz que tanto precisava. Ali estava o segredo... “como Jesus”. Só assim poderia suportar as dores terríveis que estava sentindo. Precisava dar um significado ao que estava vivendo e o significado maior era aceitar a dor “por amor”.

Depois de tantos anos, desta inesquecível experiência, Papa Francisco diz: “A dor não é uma virtude em si mesma, mas pode ser virtuoso o modo como é assumida. Nossa vocação é a plenitude e a felicidade, e, nessa busca, a dor é um limite. Por isso, entendemos em plenitude o sentido da dor por meio da dor de Deus feito Cristo”.

O que aconteceria se Deus não se houvesse feito Cristo, ou seja, se Deus não houvesse vindo ao mundo dar sentido ao nosso caminho? À nossa existência? À nossa dor?

“Por isso, o segredo passa por entender a cruz como semente de ressurreição. Toda tentativa de superar a dor dará resultados parciais se não for fundamentada na transcendência. É um presente entender e viver a dor em plenitude. Mais ainda: viver em plenitude é um presente”, afirma Papa Francisco.

Diante de uma vida que se apaga como consequência de uma doença cruel, como agir? Que atitude tomar?

Mais uma vez, nosso Papa nos surpreende pela sua humildade e humanidade, homem de coração grande e misericordioso, homem de fé e de paz. Quando questionado a responder esta pergunta, ele diz: “Emudeço. A única coisa que me ocorre é ficar calado, e, segundo a intimidade que tiver, pegar a mão da pessoa e rezar por ela porque tanto a dor física quanto a espiritual puxam para dentro, onde ninguém pode entrar; implicam uma dose de solidão. O que as pessoas necessitam é saber que alguém as acompanha, que as ama, que respeitam seu silêncio e rezam para que Deus entre nesse espaço que é pura solidão.”

As palavras do Papa Francisco me trouxeram luz. Benditas páginas escritas no tempo e na história e agora no coração para que nunca as esqueça porque sei que um dia precisarei tê-las bem vivas na mente e no coração: “Como Jesus...”

Ir. Deuceli Kwiatkowski





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