Quando a dor bate à nossa porta
ou à porta de alguém que conhecemos ficamos sem palavras, tristes e, quase
sempre, nos perguntamos: Por quê? Por que
esta pessoa? Por que justo agora no auge da sua vida? Por que neste momento da
vida com tantos projetos e sonhos a realizar? Por que agora quando tudo está
caminhando bem? Por quê? Por quê? Por quê? Quantos por quês sem respostas!
A realidade da vida é dura,
sofrida e exige de nós muita coragem, fé e perseverança. Olhar para ela e
aceitá-la não é fácil; por vezes, queremos negá-la para não sofrermos e assim fugirmos da dor. Triste constatar, mas basta um diagnóstico inesperado e a vida pode
mudar em segundos. Parece que tudo vira de cabeça pra baixo e já não
conseguimos mais enxergar nada; é como se, a partir daquele momento, tudo
começasse a morrer dentro de nós.
Há poucos dias ganhei, de uma
grande amiga, um belo livro Conversas com Jorge Bergoglio, Papa
Francisco, de Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti. Fiquei surpresa porque no
capítulo 3, ele fala exatamente do sentido cristão que devemos dar à dor quando
ela chegar.
Ele parte da sua própria
experiência de sofrimento. Ainda muito jovem, aos 21 anos, Jorge esteve entre a
vida e a morte. Febres altíssimas que não o deixaram por três dias seguidos.
Parecia o fim. Ele recorda no seu livro que,
entre tantas palavras de conforto ouvidas nos dias em que esteve sob os cuidados
médicos, uma lhe tocou profundamente o coração. Uma Religiosa entrou no seu
quarto e disse-lhe: “Você está imitando Jesus”. Estas palavras trouxeram luz à sua
dor e deixaram-lhe a paz que tanto precisava. Ali estava o segredo... “como Jesus”. Só assim poderia suportar
as dores terríveis que estava sentindo. Precisava dar um significado ao que
estava vivendo e o significado maior era aceitar a dor “por amor”.
Depois de tantos anos, desta
inesquecível experiência, Papa Francisco diz: “A dor não é uma virtude em si
mesma, mas pode ser virtuoso o modo como é assumida. Nossa vocação é a
plenitude e a felicidade, e, nessa busca, a dor é um limite. Por isso,
entendemos em plenitude o sentido da dor por meio da dor de Deus feito Cristo”.
O que aconteceria se Deus não se houvesse feito Cristo, ou seja, se
Deus não houvesse vindo ao mundo dar sentido ao nosso caminho? À nossa
existência? À nossa dor?
“Por isso, o segredo passa por
entender a cruz como semente de ressurreição. Toda tentativa de superar a dor
dará resultados parciais se não for fundamentada na transcendência. É um
presente entender e viver a dor em plenitude. Mais ainda: viver em plenitude é
um presente”, afirma Papa Francisco.
Diante de uma vida que se apaga
como consequência de uma doença cruel, como agir? Que atitude tomar?
Mais uma vez, nosso Papa nos
surpreende pela sua humildade e humanidade, homem de coração grande e
misericordioso, homem de fé e de paz. Quando questionado a responder esta
pergunta, ele diz: “Emudeço. A única coisa que me ocorre é ficar calado, e, segundo a
intimidade que tiver, pegar a mão da pessoa e rezar por ela porque tanto a dor
física quanto a espiritual puxam para dentro, onde ninguém pode entrar;
implicam uma dose de solidão. O que as pessoas necessitam é saber que alguém as
acompanha, que as ama, que respeitam seu silêncio e rezam para que Deus entre
nesse espaço que é pura solidão.”
As palavras do Papa Francisco me
trouxeram luz. Benditas páginas escritas no tempo e na história e agora no
coração para que nunca as esqueça porque sei que um dia precisarei tê-las bem
vivas na mente e no coração: “Como Jesus...”
Ir. Deuceli Kwiatkowski
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