Há poucos dias encontrei uma criança que não tinha mais do que sete
anos de idade.
Pequena, magrinha, de olhos tristes, assustada, com medo e sem forças. Quase
não falava. Fazia apenas movimentos com a cabeça. Era a forma de dizer sim ou
não.
Era uma menina como tantas outras. O que importavam seus sonhos,
desejos, vontades se naquele momento o que mais precisava era de algo para matar
sua fome? Deixavam de existir. Manter-se viva era seu maior desejo naquele dia
que estava apenas começando. Era a dura e persistente batalha pela vida que iniciava
em cada novo dia... seu maior sonho? Continuar viva... nada mais do que isso!
Senti-me envergonhada... este era o mundo que teria que enfrentar como
uma pequena guerreira lutando pelo direito de viver.
Por que precisa ser assim? Por
que a fraternidade ainda é apenas uma utopia no coração da grande maioria de
homens e mulheres espalhados pelo mundo afora?
“A dor do outro dói em mim!” Como
não senti-la? Como permanecer insensível à dor? A realidade é dura demais e
nossos olhos parecem não acreditar no que veem. A fome dói! A injustiça dói! A
miséria dói!
“O contato com a dor do outro nos
torna mais humanos, mais sensíveis, capazes de compaixão. É a paixão do mundo!
É a via-sacra dos homens que caminham para Deus”.
Inevitavelmente a realidade nos
cala, nos deixa sem palavras, nos comove profundamente e nos faz pensar na
insensatez humana que gasta milhões em armamentos para fazer a guerra e depois
sepultar milhares de pessoas e não investe no combate à fome no mundo.
Esta é a porção de sofrimento que
toca o mundo. É a realidade da existência humana que troca vidas que “não valem
nada”, por armas, domínio, ganância. É a soberania do poder sobre a vida
humana, tão marginalizada desde a sua concepção. O que vale um ser humano? Eis
a questão... “Se Deus não existe, tudo é permitido” Dostoiévski.
Não permitamos que em nossos dias
nos falte o amor, a misericórdia, a compaixão. Se ainda nos falta a coragem de
viver com coerência aquilo que acreditamos, tenhamos ao menos a sensibilidade
de não desviarmos o olhar da realidade. Quem sabe um dia, tocados pela
compaixão, possamos olhar sem preconceitos e realizar algo de bom na vida de
alguém que precisa da gratuidade de nosso amor. Onde houver um ser humano sempre
haverá possibilidade de realizarmos o bem.
Ir. Deuceli kwiatkowski