domingo, 24 de julho de 2011

Pedras vivas


“Quando sentirem saudade de Mim, reúnam-se e Eu estarei com vocês!” (Mt 28,20).

Não existiu ninguém neste mundo que tenha vivido tão plenamente sua vida humana como Jesus. Ele não queria mais nos deixar e surpreendeu-nos com seu jeito tão humano de permanecer conosco. E para lembrar sempre da sua presença, a Igreja não se cansa de dizer: “O Senhor esteja convosco! Ele está no meio de nós!”


Que dom pode ser maior do que ter a presença do próprio Cristo na Eucaristia sempre que desejarmos, neste tempo que é nosso?

Deus está em nós, na nossa alma, dentro de cada um, na própria existência e na história. Mesmo que falemos baixinho, só para Ele ouvir, Ele nos escuta porque todo lugar pode se tornar lugar de oração. Assim podemos rezar quando estivermos lavando a louça: “Lava-nos, Senhor, de nosso pecado”; ou sentados à mesa: “Senta conosco, Senhor, e abençoa nossas famílias”; ou quando estivermos entre amigos: “Senhor, não permita que nunca nos afastemos da sua presença, mas seja sempre nosso melhor e mais querido amigo”; ou quando estivermos semeando as sementes para as novas colheitas: “Senhor, queremos ser sementes de vida ali onde você nos plantou”; ou ainda, em nossos sofrimentos: “Senhor, posso perder tudo neste momento, mas, por favor, não me tire a fé”.


Rezar é assim simples e fácil porque a própria vida nos ensina. Se ficarmos olhando só para nós mesmos, perderemos a oportunidade de levantar a cabeça, de enxergar o horizonte, de alargar o coração para agradecer sempre! Quando o coração está em Deus, a vida se torna uma oração.

Mas também a comunidade é o lugar privilegiado do encontro com o Senhor. Longe da comunidade tornamo-nos fracos porque ali é o lugar da companhia, da comunhão, da participação. Uma comunidade eucarística é aquela que se reúne para dizer: “Muito obrigado, Senhor, porque fomos resgatados pelo seu infinito amor e, por isso, voltamos sempre aqui para agradecer-Lhe pela vida, pelas nossas famílias, pelos dons recebidos”.


Saber agradecer é uma atitude que enobrece o coração do homem que é capaz de reconhecer que tudo é dom de Deus.

Sintamo-nos como filhos na casa do Pai e irmãos entre nós. A casa de Deus deve ser um lugar bonito onde o espaço, as flores, os cantos, as pessoas expressem sua beleza e nos ajudem a rezar. Neste lugar, o que deve nos unir é a fé que professamos, o amor que vivenciamos e a esperança que nos anima na caminhada da vida.

Sejamos pedras vivas neste edifício construído por mãos humanas e Deus, o divino construtor, torne bela nossa alma para um dia estarmos com Ele para sempre.

Ir. Deuceli Kwiatkowski
Religiosa Marcelina – Rio de Janeiro

Sementes de vida

Jesus, Mestre por excelência, passou pelos caminhos deste mundo semeando abundantemente sementes de vida.

Multidões eram atraídas para junto daquele que explicava a vida de uma forma tão simples falando da terra, das sementes, dos frutos..., que perdoava os pecadores sem nenhum julgamento porque já estavam despedaçados pela mediocridade humana, que curava os doentes do corpo e do espírito e os entregava às suas famílias, que acolhia as crianças com a ternura de um pai. Era assim que Jesus vivia no seu tempo, cumprindo sua missão de tornar claras todas as coisas reveladas pelo Pai. Por isso, aqueles que andavam com Ele, não O largavam mais, juntaram-se entre si, tornaram-se amigos. Não há nenhuma razão maior do que esta para tornar-se amigo.

“Ninguém jamais falou como Ele, diziam todos maravilhados. Verdadeiramente o jeito de ser de Jesus, seu interesse pelas pessoas, tocavam todos os que O escutavam porque correspondiam às exigências mais profundas do coração humano como a sede de felicidade, de verdade, de bondade, de justiça e de paz. Ouvir Jesus era, para cada um, o reavivar da esperança e a confirmação de que era possível viver assim como Ele.

Jesus, o semeador do Pai (Mt 13, 1-9) despertava naqueles homens e mulheres, às margens do mar da Galileia, o desejo de tornarem-se, com Ele, sementes de vida para produzirem frutos em abundância pelo mundo afora.

Tornar-se uma semente de vida significa florescer ali onde Deus nos plantou seja em nossa família, em nosso trabalho, em nossa comunidade ou com nossos amigos, porque uma semente que não produz fruto, morre em si mesma, em seu egoísmo sem realizar suas potencialidades. E não há felicidade naquele que vive só para si, que vive no pecado.

Não importa se somos um pequenino arbusto ou uma grande árvore, importa que tenhamos raízes e que continuemos neste tempo que é nosso, a missão de Cristo. Para isso, precisamos voltar sempre e sentar às margens do mar da Galileia, olhar para Jesus, ouvi-Lo falar, falar, falar e, vencendo o tempo e o espaço, deixar que seu amor nos torne sempre uma semente fecunda que gera a vida onde for lançada.


Ir. Deuceli Kwiatkowski
Religiosa Marcelina – Rio de Janeiro

Nascemos para dar certo

Que aspiração pode ser maior do que a vida?

Quando nossos olhos se abriram para este mundo, vivemos a bela experiência do cuidado. Alguém cuidou de nós! Incansavelmente fomos alimentados, embalados, consolados, afagados, contemplados, protegidos... alguém nos amou profundamente em cada momento de nossa vida, na gratuidade e na ternura.

Aos poucos, esta experiência de sentir-se amado ampliou-se e percebemos que o amor ultrapassou os limites de nossa casa e multiplicou-se em muitos encontros que fizemos ao longo de nossa vida até descobrirmos que existe um amor maior que sustenta todos os nossos amores que é o Amor de Deus!

A experiência do primeiro amor é decisiva em nossa vida porque ninguém consegue amar sem antes ter sido amado. Nossa relação com a vida, com Deus, com as pessoas está intimamente ligada a esta experiência. O amor como gratuidade e ternura só se aprende com quem vive o amor como gratuidade e ternura, não se aprende teoricamente.

Nascemos para dar certo! Nascemos para encontrar amigos, para conhecer lugares novos, para amar alguém e constituir uma família, para viver a vida de uma forma leve, bonita, sem atropelos e desânimos. Nascemos para amar de um jeito certo e bonito. Se em algum aspecto de nossa vida não demos certo, talvez porque nossas escolhas não foram acertadas, mas mesmo assim “tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28).

Para amar não há limite de idade porque fica bem em qualquer momento da vida. É possível começar sempre e, muitas vezes, com um pequeno gesto em cada dia. Amar é um exercício recomendável a todos porque nos deixa mais elegantes em nosso jeito de ser! Ninguém resiste a um sorriso, a um abraço, a uma palavra de consolo, a um gesto de carinho e atenção... ninguém resiste ao amor porque todos temos necessidade de amar e de sermos amados.

“As flores do campo não mudam de lugar para achar os raios de sol. Deus se encarrega de fecundá-las onde quer que estejam”. Assim somos nós também. Deus nos aceita do jeito que somos mas não quer que permaneçamos do jeito que estamos. Um passo avante, ali onde vivemos e trabalhamos, com aqueles que amamos e com aqueles que temos dificuldades para amar. Se permanecermos unidos a Deus, produziremos frutos para a eternidade porque aquele que ama conhece a Deus, porque Deus é amor (1Jo 4,8).
Ir. Deuceli Kwiatkowski
Religiosa Marcelina – Rio de Janeiro